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Sem

  • Marina Ruivo
  • 18 de ago. de 2016
  • 1 min de leitura

Sem fronteiras, sigo gestos e devoro teu perfil, dividindo-o ao meio numa divisão escancarada do meu ser que te beija e se volta para tecidos e telhas e rezadeiras, água-benta que cai neste salão e põe todo mundo a dançar.

Sem fronteiras, vou pouco a pouco de um gesto a outro e decifro tua cara, teu palmo e teu passo. Vou pra lua e volto pro espelho no mato, acocorado e acovardado perante o escuro, o sossego e a mata fechada. O mapa da viagem no atlas, o desenhar a régua, sem compasso.

Percorro as fotos com as mãos. Matéria viva, minha, elas vão pro varal ou pro mural de cortiça do quarto. Comigo, no fusca vermelho, a estrada de terra batida rumo ao Norte – ou a algum país da América Central.

Os países nunca vistos, vou sentindo-os terra a terra. As gentes de cara na janela, o palhaço tirando a maquiagem, a menina. O sarau, a noite, o piano tocando e as luzes na construção colonial. A casa tem um pátio foi pintada de salmão. Olhei tudo e vi. É aqui, é assim, ao lado do mar.

Sem fronteiras, sigo sem saber o que é o bem e o mal. O que se faz e pra que ou como serve, pra onde vou se não consigo nem levar o dia a dia. Não pago as contas nem o aluguel, cotidiano que desaba no colo, chumbo que exige resposta. E as fronteiras, sonhos inventados pra assustar.

(Texto publicado originalmente em:

http://www.revistasamizdat.com/2016/08/sem.html)

"Le Château Noir" (1904) Paul Cézanne

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Geração armada: literatura e resistência em Angola e no brasil
É o título do livro originado da dissertação de mestrado que defendi na USP, no programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Trabalhei com o romance A geração da utopia, do escritor angolanod Pepetela, e com o testemunho Viagem à luta armada, de Carlos Eugênio Paz, ex-militante da ALN.

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