O índio cor-de-rosa
O índio cor-de-rosa: evocação de Noel Nutels, de Orígenes Lessa, é um livro singular e encantador. Definida por seu autor como “uma tentativa de reconstituição geral da maravilhosa figura humana de Noel Nutels”, como “pouco mais que uma longa reportagem”, a obra é em verdade muito mais que isso, e pode ser pensada como uma espécie de romance biográfico, como qualifica Eliezer Moreira, em texto de apresentação à edição.
A vida do médico sanitarista Nutels foi por demais romanesca e o modo como a reconstruiu o escritor a fez ainda mais saborosa. Tendo nascido na atual Ucrânia e vindo para o Brasil ainda menino, Nutels chegou a uma terra toda estranha mas que logo o foi encantando. Foi aqui que ele viveu suas iniciações, e foi aqui também que entrou para a Faculdade de Medicina, no Recife, para depois se integrar como médico à Expedição Roncador-Xingu.
Nutels foi médico e depois diretor do Serviço de Proteção ao Índio, trabalhou pela criação do Parque Nacional do Xingu, e envolveu-se completamente com as populações indígenas brasileiras. Foi médico do Serviço Nacional de Tuberculose, além de idealizador e diretor do Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (Susa), lançado na segunda metade dos anos 50 para levar serviços médicos e sanitários aos locais deles desprovidos. Foi ainda professor da Universidade Nacional de Brasília e ministrou aulas e cursos em várias universidades estrangeiras.
Diante de tal trajetória, Lessa faz questão de ressaltar que não buscou retratar nem “o cientista, o indianista, o pensador, mas apenas o homem Noel”: “o homem que amou e respeitou os seus e os nossos índios sem intenção de estudá-los, classificá-los e, principalmente, civilizá-los”. No livro, estaria “Apenas o aspecto Noel do problema. E todo aquele jeito Noel de olhar a vida...”.
A edição, com várias fotografias da vida do retratado, conta ainda com um trecho de suas memórias inacabadas, denominado “Noel por Noel”, e cuja leitura nos coloca diante de outra faceta do homenageado, a de escritor.
Confesso minha ignorância, eu nunca havia ouvido falar de Nutels até então. Fiquei fascinada.