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O vampiro da Mata Atlântica

Martha Argel, que é bióloga (especificamente ornitóloga, ou seja, estudiosa das aves), fez uso não apenas de seus conhecimentos científicos, mas também de sua experiência de campo como bióloga para criar uma narrativa que envolve o leitor desde o início, em seus mistérios e assombrações. Os protagonistas da aventura são dois jovens biólogos, pesquisadores de pós-graduação, que partem para uma região da Mata Atlântica com a missão de verificar se uma determinada área preenche os requisitos necessários para que se transforme em reserva ambiental.

Além de alguns conflitos internos a cada um dos personagens, a relação entre ambos é bastante tensa, o que é um polo que contribui para a força da narrativa. Ademais, eles estão ali não apenas para a missão para a qual foram contratados, como também em busca de seus objetivos mais delimitados, relacionados às pesquisas que desenvolviam. Xavier em sua procura pela harpia, ave rara e ameaçada de extinção, objeto de seu mestrado, e Júlio em busca de mais informações para sua tese sobre os morcegos frutígeros e o modo como eles contribuem para a disseminação de sementes e a consequente preservação da mata.

Mas o mais importante eixo da narrativa é mesmo o suspense, movido pela perspectiva da presença de um vampiro na região desabitada em que os dois vão parar. Como leitores, sabemos desde o início que há mesmo um ser sobrenatural no local, pois este nos fala em primeira pessoa, narrando sua volta ao mundo dos vivos sob uma nova forma. A população do local abandonara a região justamente por conta de mortes misteriosas ocorridas, e circulava a história de que havia algo do além que estaria provocando as mortes. Claro que os dois protagonistas desdenham do boato, considerando-o mera lenda, mas Júlio, em especial, está a todo tempo brincando com ela, para que não esqueçamos que este é o motivo principal da narrativa. Júlio é, aliás, um grande interessado pelas várias versões das lendas ligadas aos vampiros, o que se revela decisivo para o desenvolvimento do enredo.

O final, sendo fiel a um dos principais elementos dessas lendas dos vampiros, consegue ser bastante surpreendente e original. Boa escolha para quem gosta de narrativas de suspense e mistério, nesse filão que vem sendo chamado de “literatura fantástica”. A única recomendação é a de que em uma próxima edição haja um cuidado maior com a revisão do texto.

ARGEL, Martha. O vampiro da Mata Atlântica. Bauru, SP: Idea Editora, 2009. 176 p.

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Geração armada: literatura e resistência em Angola e no brasil
É o título do livro originado da dissertação de mestrado que defendi na USP, no programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Trabalhei com o romance A geração da utopia, do escritor angolanod Pepetela, e com o testemunho Viagem à luta armada, de Carlos Eugênio Paz, ex-militante da ALN.

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