Maria-Fumaça

Com ilustrações diferenciadas e bastante coloridas do premiado artista mineiro Zeflávio Teixeira, o livro se constrói como um poema sobre a Maria-Fumaça, apoiando-se decididamente na sonoridade de seus versos, que se harmonizam à sonoridade do trem. Há inclusive um aviso do autor para que a leitura seja feita primeiramente em ritmo lento e atento, para, depois, ser acelerada aos poucos até chegar ao que seria a “velocidade de um trem”. O fato é que, mesmo dirigido aos leitores iniciantes, usando em geral de palavras simples e de muitas repetições, o livro também agrada os pequenos ouvintes, justamente por sua sonoridade e pela força visual de suas ilustrações. Os meninos, sobretudo, por questões socioculturais, parecem ficar especialmente encantados. É interessante notar também que a obra traz alguns elementos que, hoje em dia, poderiam ser considerados indesejados em uma obra para crianças, a partir de uma visão do “politicamente correto”, como é o caso da presença de gente fumando dentro do trem, ou ainda da mãe de um menino que chora, no interior do trem, a dizer-lhe “te cala, menino!”. Mas o fato é que, por mais condenável que seja o cigarro (e hoje a consciência de seus males é ainda maior que na década de 1980), as crianças deparam-se com este indesejado elemento muitas e muitas vezes em seu cotidiano, e o mediador ou adulto que está por perto pode também observar algo do gênero, até mesmo procurando, com delicadeza, contextualizar o que então era permitido, na época em que o livro foi escrito (fumar em um trem) e assim falar sobre mudanças de costumes e temas afins. Mesmo a forma como a referida mãe fala com o filho pode ser aproveitada como mote para brincadeiras sobre a relação pais e filhos e de como às vezes ela tem suas dificuldades. Enfim, o livro, que à primeira vista pode parecer apenas singelo, é de grande riqueza e valor para a formação dos pequenos leitores.

BERNARDINO. Maria-Fumaça. Ilus. Zeflávio Teixeira. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987. 24 p. il. color. (Série Lagarta Pintada)