A diaba e sua filha
- Marina Ruivo
- 3 de jul. de 2015
- 2 min de leitura

Amei revisar este livro!
A estranheza desta obra se faz presente desde seu título, que faz menção a um inexistente vocábulo em português, “diaba”. Uma estranheza que nos acompanha ao longo desta história, compondo-se como um elemento central de sua problemática, como o escritor Mia Couto apontou nas orelhas do livro, e que se acentua pelo caráter noturno da maior parte da ação, amplificado e tornado um bocado sombrio pelas ilustrações, por seus traços e também pelo tom azulado que as banha. A premiada escritora francesa de ascendência senegalesa, em sua primeira obra dirigida ao público infantojuvenil, nos conta a história de uma inominada diaba que saía às noites para procurar sua misteriosamente desaparecida filha. Como era muito bela e doce de rosto, de imediato todos se predispunham a ajudá-la, mas essa predisposição alterava-se assim que os olhos das pessoas se dirigiam aos pés da doce mulher, que não eram pés humanos, e sim cascos de cabra. No decorrer da história, Ndiaye nos faz ver como são tênues os limites entre bondade e maldade, subvertendo a maldade intrínseca à noção do diabólico e questionando os comportamentos de exclusão do outro-diferente-de-mim que se fazem movidos pelo medo. Obra tocante e bela, é para ser lida por crianças maiorzinhas, a partir dos 10 anos, mais ou menos. Se trabalhada em sala de aula, pode render ótimas discussões sobre as questões da tolerância/intolerância, xenofobia, discriminação, dentre outras (como a da adoção, pois a menina que finalmente traz de volta a plena humanidade e o lar àquela doce mulher não necessariamente era a sua filha que sumira, mas com certeza era uma menina expulsa de sua aldeia pela deformidade que tinha nos pés, o que fez com que as pessoas imaginassem que ela tanto poderia ser a tal filha sumida, quanto poderia se tornar uma diaba).
NDIAYE, Marie. A diaba e sua filha. Ilus. Nadja. Tradução Paulo Neves. Texto de orelha de Mia Couto. São Paulo: Cosac Naify, 2011, 40 p. com il.
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