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Cecília, mais uma vez

DOZE NOTURNOS DA HOLANDA

Os poemas de Doze noturnos da Holanda foram publicados pela primeira vez em 1952, em edição que trouxe também, numa espécie de adendo, os poemas de O Aeronauta. Na mais recente edição, coordenada por André Seffrin, os dois livros foram publicados separadamente, uma opção mais que justificada pela diferença formal tão grande existente entre eles.

Como explica na Apresentação o mestre em Letras e editor da Editora da Unifesp, Aristóteles Angheben Predebon, o noturno é um gênero específico, não apenas literário, mas sobretudo pertencente ao domínio da música, e que ganhou uma maior definição de seus contornos com Chopin. Na literatura, são também muitos os noturnos, mas é interessante reconhecer, como Predebon nos faz ver, como os noturnos da Holanda de Cecília diferem de muitos dos noturnos literários, já que não apenas fazem da noite sua temática, como se constroem em diálogo com o noturno enquanto gênero musical, com seu andamento A-B-A, em que a última parte da obra retoma a primeira. Lidos em conjunto, como um longo poema, os doze noturnos da poeta realizam este movimento musical, numa correlação literatura/música bastante agradável aos leitores.

Escritos depois de uma viagem da autora à Holanda, país que lhe encantou e a fez se sentir em meio às famosas gravuras de lá, foram tecidos às noites. São poemas construídos de uma forma diferenciada em relação à maioria da produção poética da autora. Isso porque se constroem como versos longos, praticamente versículos, sem rimas. Versos que parecem procurar construir-se à semelhança da noite, com sua falta de precisão de limites, e, nesse sentido, como também reforça o apresentador do volume, dialogam com a noite também por meio de sua forma, uma forma noturna.

O AERONAUTA

Esta obra ganha uma edição autônoma que possibilita que os leitores o apreciem com o valor próprio que seus poemas contêm. Escritos na mesma época que os Doze noturnos, os onze poemas de O Aeronauta são muito diferentes daqueles: seu tom não é noturno, nem eles têm a melancolia que caracteriza os primeiros.

Ademais, estes poemas, com sua forma quase fixa, de versos curtos bastante diversos dos quase versículos de Doze noturnos, expressam um eu-lírico, o Aeronauta, este viajante do espaço aéreo, que está mesmo longe da terra, que está num lugar suspenso, percorrendo o espaço, e seguro de si: “Agora podeis tratar-me/como quiserdes:/não sou feliz nem sou triste,/humilde nem orgulhoso,/– não sou terrestre”. Um viajante que sabe que “seu destino é ir mais longe”, “mas sem desejo e sem medo,/e entre os acontecimentos/tão sossegado!”.

Na viagem deste Aeronauta, os espaços são sem distância, estão além da distância, poderíamos dizer, e o tempo também se mistura e se funde, e “Tanto é noite quanto é dia./E vida e morte”.

Seus versos expressam ainda, como nos indica o poeta Ivo Barroso na Apresentação à obra, uma conquista pessoal de Cecília Meireles, cujo medo de avião era bastante conhecido. A poeta teve que suplantar esse medo para poder fazer as longas viagens ao Oriente e à Europa e, do medo muito, passou ao prazer, a gostar de estar no ar, no espaço, voando. Os poemas que o leitor irá acompanhar revelam este prazer, esta alegria em voar, em estar num outro espaço que não o terrestre.

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Geração armada: literatura e resistência em Angola e no brasil
É o título do livro originado da dissertação de mestrado que defendi na USP, no programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Trabalhei com o romance A geração da utopia, do escritor angolanod Pepetela, e com o testemunho Viagem à luta armada, de Carlos Eugênio Paz, ex-militante da ALN.

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