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Rua do Sol

Rua do Sol, romance de Orígenes Lessa publicado em 1955, ano em que foi agraciado com o Prêmio Carmem Dolores Barbosa, é um dos poucos textos de nossa literatura cujo protagonista é uma criança vista como tal, e não um adolescente, como observa Eliezer Moreira em sua apresentação a esta edição, tendo em vista que muitas das obras que fizeram de um menino ou uma menina seus protagonistas, o fizeram flagrando-os já na passagem para a adolescência, ou mesmo na própria adolescência.

Em Rua do Sol, inspirado na infância do autor, Paulinho, o protagonista, é uma criança mesmo, e é por meio de seus olhos que vemos o mundo, de forma a acompanharmos suas descobertas e aventuras. O episódio do nascimento de mais um irmão é exemplar do modo como procedeu o autor: Paulinho não sabia que a mãe estava grávida, aliás nem sabia que os nenês nasciam das mães, mas apenas notava que ela andava engordando. E é somente a esta informação que nós, leitores, temos acesso – e apenas começávamos a conhecer a personagem de dona Irene. Num dia, repentinamente, Paulinho, então com 6 anos, percebe uma movimentação anormal em sua casa: a mãe, no leito; as empregadas num entra e sai de chaleiras, toalhas e bacias; uma senhora conhecida instalando-se no quarto da mãe dele com jeito de quem veio para ficar; o pai tenso; ele sendo praticamente convocado a brincar na casa em frente, de seu amigo e irmãs. A sensação do menino é a de que mãe está à morte, e nós, sabendo que Lessa perdeu a mãe cedo, compartilhamos do ângulo de visão do menino, para depois descobrirmos, aliviados, que era apenas mais um parto.

Lessa não “adultizou” o menino, nem o “infantilizou”, não o fazendo representante de uma suposta pureza que todos teríamos em criança. Seu romance encanta e nos faz partilhar deste mundo de uma forma que, como Eliezer também aponta, parece só haver sido alcançada por Cecília Meireles, em seu Olhinhos de gato.

A edição conta ainda com um belo posfácio de Adolfo Casais Monteiro, além de um glossário e uma nota biográfica do escritor tão múltiplo que foi Orígenes, membro da Academia Brasileira de Letras e falecido em 1986.

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Geração armada: literatura e resistência em Angola e no brasil
É o título do livro originado da dissertação de mestrado que defendi na USP, no programa de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. Trabalhei com o romance A geração da utopia, do escritor angolanod Pepetela, e com o testemunho Viagem à luta armada, de Carlos Eugênio Paz, ex-militante da ALN.

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